quinta-feira, 25 de junho de 2009

Reportagem do jornal "Diário da Manhã" do dia 28/04/2009 na seção cidades

Escolas atraem traficantes Três casos de apreensões ou prisões relacionados a drogas próximo a unidades de ensino são registrados por dia l Três homens foram presos ontem por tráfico de drogas e corrupção ativa em frente a unidade municipal e faculdade particular l Em um mês, 72 foragidos são recapturados nesses locais

De Marcos Coelho



O tráfico e o uso de drogas se tornaram constantes em porta de escolas e faculdades na Capital. Em média, três casos são registrados por dia (dados referentes a dias úteis), em portas de escolas, pelo Batalhão Escolar da Polícia Militar (BPMEsc). Nesta segunda-feira, 27, mais um caso comprova esta realidade. Três homens foram presos por uso, tráfico de drogas e corrupção ativa. Um deles em frente à Escola Municipal Eva Vieira de Almeida, na Vila Alvorada, e os outros dois em uma casa em frente a Faculdade Uni-Anhanguera, na Vila Canaã. Para especialistas, número é alarmante, mas revela ação eficaz da PM.
O detento do semiaberto Neliton Mendonça da Silva, 24, estava com um papelote de maconha na porta da escola municipal quando foi apreendido por dois policiais militares do serviço de inteligência do Batalhão Escolar que estavam a paisana. Detido, Neliton, que cumpre pena por roubo e extorsão, de acordo com a Polícia Militar, pediu que fosse enquadrado como usuário para não voltar ao regime fechado, e, em troca, entregou os traficantes que lhe venderam a droga.
Com informações de Neliton, o padeiro Arlei da Silva Albernaz, 20, foi preso na porta de casa, na Rua Georgete Duarte, na Vila Canaã, próximo à Faculdade Uni-Anhanguera. Ele estava vendendo papelotes de maconha quando foi detido em flagrante por tráfico. Ele então ofereceu propina no valor R$ 5 mil para os policiais. Aí é que entra o motorista Morzan Donizete Fagundes Júnior, 24.
Arlei, por telefone, comunicou a Morzan que precisava do dinheiro para pagar uns policiais. Passado alguns minutos, Morzan chegou ao local com cerca de R$ 2 mil e foi preso por participação no crime de corrupção ativa. Detidos em flagrante, ambos foram encaminhados para a Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc).
O delegado Izaías Araújo, titular da Denarc, informa que, só em 2009, Arlei já foi preso três vezes pelo mesmo crime, uma vez que é sempre liberado para responder pelo crime em liberdade. O tenente Ricardo Pereira, do Batalhão Escolar, disse que ação foi rápida e pensada, e que tudo começou com a detenção de Neliton.
Ele informa que é uma ação continuada da PM, que segue todos os dias um mapa de visitas às escolas, o que tem gerado resultados. “O serviço de inteligência da polícia percebeu uma movimentação de tráfico de drogas na porta. E a partir do usuário chegamos ao vendedor,” pontua.
O comandante do Batalhão Escolar, tenente-coronel Lourival Camargo, afirma que o número de ocorrências nas portas e proximidade de escolas tem crescido consideravelmente. Só em março foram 60 casos de tráfico e consumo de drogas. Outro ponto preocupante é a quantidade de foragidos da Justiça nesses locais, em um mês foram 72 recapturados, quando estavam perto de alguma escola.
Segundo ele, a movimentação de alunos propicia a venda e acaba influenciando a chegada dessas drogas no interior das unidades educacionais. Camargo diz que as ocorrências são na mesma quantidade nas escolas municipais, estaduais, particulares e até mesmo das universidades. “A polícia está agindo para conter o tráfico. Se as apreensões aumentam é porque estamos atuando. As escolas são locais de muito movimento”, considera. Para Camargo, apesar das prisões e da repreensão, a melhor saída para afastar os estudantes das drogas é o trabalho de conscientização e prevenção através de programas sociais na sala de aula.
O reitor da Uni-Anhanguera, professor Joveny Cândido de Oliveira, afirma que, apesar da prisão ter ocorrido bem próximo à faculdade, dentro da unidade de ensino não há problemas ligados a drogas. “Temos segurança rígida e nunca tivemos este problema dentro de nossa unidade. Aqui os estudantes têm proteção. A polícia faz a sua parte do lado de fora,” pontua o reitor. A Assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal de Educação informou que a prisão de Neliton, na porta da Escola Eva Vieira, como comunicou a PM, não é de conhecimento da secretaria, que preferiu não comentar o caso.

Delegada sugere proibir ambulantes

A delegada Nadir Cordeiro, da Delegacia Estadual de Apuração de Atos Infracionais (Depai), afirma que há muitas ameaças nas portas de escolas. Entre elas, estão os vendedores ambulantes. Ela destaca que alguns aproveitam a situação para infiltrar drogas nas unidades de ensino. “Na minha visão, na porta de escola deveria ser proibido qualquer tipo de vendedores ambulantes.”
Nadir diz que até o mês de março deste ano já foram registrados 130 casos de violência nas escolas e que não tem como negar a presença das drogas no ambiente de aprendizado. Para ela, as portas de escolas também são locais frequentados por presos do semiaberto, e que, por isso, os pais devem ficar atentos na ida e volta dos filhos. “É bom que os pais acompanhem os filhos para evitar transtorno. Não podem deixar que sejam influenciados.” Como o DM publicou na semana passada, traficantes estão aliciando estudantes para atuarem como “aviãozinhos” no tráfico. O alerta foi feito pelos diretores e profissionais de colégios que recebem apoio do Programa Saúde na Escola (PSE).
A pedagoga e professora Maria Euzébia, conhecida como Bia, destaca que a realidade próxima às escolas não é tão grave quanto à existência do tráfico dentro da sala de aula. “O transtorno é bem maior no interior das unidades. Professores e alunos são ameaçados.” Para ela, apesar da existência do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), e de outros programas, eles não são suficientes.
O sociólogo José Nerivaldo, mestre em Filosofia Política, afirma que o número de apreensões e prisões por tráfico de drogas é alarmante e requer, segundo ele, uma ação imediata do poder público. “Percebemos que não dá para colocar a polícia em cada escola”. Nerivaldo destaca que há uma falha no compromisso dos pais com os filhos, que podem ser aliciados para o tráfico, pela falta de acompanhamento.

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