PADRE PROMOVE BAILE PARA CONSTRUIR IGREJA
Reportagem do jornal Correio Brasiliense de domingo 12/09/1971, edição de nº 3.606 na página 39.
Goiânia (Sucursal) – “Ou se faz
uma casa com o nome de Deus, ou com o nome do diabo. Os dois nomes numa mesma
casa é que não está certo” – declarou o comerciante Hugo Gonçalves sobre as
promoções dançantes que o Padre Alberto Siqueira, da Igreja Nossa Senhora
Rainha da Paz, da Vila União, vem promovendo para angariar fundos a fim de
construir a igreja local. “Se os bailes fossem fora da igreja – prossegue
dizendo – estava certo, mas dentro da igreja não está direito, é um
sacrilégio”.
Enquanto isso, referindo-se ao
problema dos bailes organizados no Salão Paroquial da Vila União, dona
Nicéphora Nogueira de Rezende, também comerciante naquela vila declarou: “A
aranha vive do que tece. Se o Padre Alberto saísse de casa em casa pedindo um
cruzeiro a cada morador da vila, ninguém daria. Ele faz muito bem em promover
os bailes, pois só assim conseguirá fundos para a construção de nossa igreja”.
OPINIÕES DIVIDIDAS
Entre os moradores da Vila União,
as opiniões se dividem sobre os bailes realizados, aos sábados e domingos, no
Salão Paroquial, promovidos pelo Clube Social e Educativo, que conta com 220
associados.
Os bailes, naquele salão onde são
também celebradas as missas, reúne a quase totalidade dos moradores jovens da
Vila União, sendo que os sócios quites não pagam ingressos, bem como as
senhoras e senhoritas que entram por uma porta especial. Os não sócios pagam um
ingresso de Cr$ 5,00 e os bailes são animados pelos conjuntos “Embalo 7 “ e
“L-C-5”, considerados os mais moderninhos. Também o “Som Livre” tem contrato
para bailes naquele Salão.
Segundo os moradores de Vila
União, os bailes começam sempre às 21 horas, logo após a missa, quando o salão
sofre uma metamorfose praticada pelos próprios cristãos, que tão logo termina a
missa, arrastam os bancos para os lados do salão, tiram o altar para que o
palco, onde o mesmo estava colocado, seja ocupado pelo conjunto musical. As
danças aos sábados e domingos, vão até as duas horas da madrugada e os bailes,
segundo informaram, conta com a vigilância e comissários de Menores e uma
guarnição da Rádio Patrulha.
O comerciante Nelson Barbosa de
Araújo, ouvido pelo repórter, declarou-se “contra os bailes, pois a semana
passada o Padre agrediu um menor que ele havia expulsado do baile”. Contrários
também são os comerciantes Diomério Gonçalves, Antônio Carlos de Oliveira, ao
passo que os senhores Anailson Frazão dos Reis, Zoroastro Barreira Lustosa e Eurípedes
Ribeiro de Souza, também estabelecidos com casas comerciais nas proximidades do
Salão Paroquial, são favoráveis aos bailes.
Padre Alberto
O Padre Alberto Siqueira, Pároco
da Igreja de Nossa Senhora Rainha da Paz, em Vila União, é um homem simpático
de 33 anos de idade, palavra fluente e, está naquela Paróquia deste maio de
1969. É sacerdote há cinco anos, mas esta é a primeira vez que dirige, como
Vigário, uma Paróquia, apesar de já haver prestado serviços religiosos, como
auxiliar em outras igrejas.
Foi encontrado pelo repórter
celebrando a missa das 19 horas, na qual dez senhoras e dois homens comungaram.
Ao final da celebração, enquanto Padre Alberto Siqueira dirigia-se a uma sala
nos fundos, que faz as vezes de Sacristia, trocava a sua indumentária, os
mesmos participantes da Missa arrastavam os bancos para um canto do salão
paroquial, retiravam a mesa que servira como altar e colocavam, em fileiras as
carteiras escolares, que em seguida foram cercadas por um rombo de Duratex,
transformando-se numa em que a mesa do professor era exatamente antes fora o
altar da missa.
No canto da Paróquia – disse o
Padre Alberto Siqueira – um ponto geral a promoção de toda a comunidade. As não
somente angariar fundos para a construção da igreja, mas principalmente a
integração dos membros na comunidade. Visando isso é que criamos o Clube Social
e Educativo da Vila União.
Padre Alberto, este salão
Paroquial é onde se realizam os bailes.
O salão serve para tudo –
esclareceu – aqui de secretaria, na sexta-feira de manhã, funciona o curso de
corte costura e bordado, dirigido pela professora Zilda Silva, organizado pelas
voluntarias de Goiânia, que conta com muitas alunas. Agora à noite, funciona
aquela sala (apontou a obra que acabavam de fazer) do Primeiro Científico do
Colégio Pedro Gomes, e uma sala de alfabetização. O Científico tem 23 alunos e
a alfabetização 20 pessoas. Pela manhã, temos também um jardim de infância. Mas
o Salão Paroquial, é por nós usado deste as reuniões litúrgicas até as sociais
que aqui são realizadas. Existentes e o mais apropriado para tais fins. Para o
Padre fazer baile na igreja.
Pode afirmar que fazemos bailes na igreja? Vila União ainda não tem, em realidade, a sua igreja. Ela será construída aqui do lado, onde os alicerces já estão prontos. O mais certo seria dizer-se que rezamos missa no salão paroquial e não que realizamos bailes dentro da igreja, informou o padre, em 1969, quando ainda não existia nem mesmo esse salão, eu rezava as missas nas residências dos moradores aqui da Vila União e, cheguei mesmo, uma vez, a rezar missa no Bar Lanche União, aqui em frente. O importante é que se consiga construir a Igreja de Nossa Senhora Rainha da Paz, e isso vamos fazer, com bailes ou sem eles.